segunda-feira, 5 de agosto de 2013

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O choque

"O que mais me impressionou nesse dia, porém, quando guardei meu caderno e vesti meu casaco para ir para casa, não foi a imagem fantasmagórica de Drácula em minha cabeça nem a nota descrevendo a empalação, mas o fato de que estas coisas, aparentemente, tinham ocorrido de verdade. Se prestasse atenção, pensei, escutaria os gritos dos meninos, da "família numerosa" morrendo junta. A despeito de todo o seu cuidado com minha educação histórica, meu pai esquecera de me contar isto: os terríveis momentos da história foram reais. Compreendo hoje, décadas mais tarde, que de nada adiantaria ele me contar. Só a própria história pode convencer-nos desta verdade. E tendo visto de frente esta verdade - realmente visto -, não se podem mais desviar os olhos dela." (Elizabeth Kostova. O historiador)

Só para contextualizar, nesse trecho a personagem principal do livro, que é filha de um historiador e que nessa época era adolescente, vai à Biblioteca da Universidade pesquisar sobre Vlad de Tepes, o Empalador ou o Drácula (histórico), e lê um documento que trata das crueldades que ele praticava com seu povo e com estrangeiros.

O livro de Elizabeth Kostova é um romance, no qual ela coloca elementos históricos e da pesquisa histórica. É um romance muito bom. Mas o que me chamou a atenção é a forma como ela coloca algumas questões próprias de nós, historiadores. Como esse trecho acima citado, em que ela apresenta brilhantemente o choque pelo qual, acredito eu, todo historiador passa em algum momento.

Lidamos, muitas e muitas vezes, com crueldades. Umas parecem mais distantes de nós, outras mais próximas - e talvez não apenas por causa dos períodos, mas por causa da identificação com aquele que sofre a crueldade. E, por mais "pós-modernista" que se seja, é difícil não passar por aquele momento (de crise, obviamente) em que você está analisando um documento ou lendo um texto historiográfico e repentinamente se dá conta: "Meu Deus, isso aconteceu de verdade, isso foi real!"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre a atualidade da História.


Ontem eu estava escrevendo um texto sobre insurreições de escravos e abolicionismo(s) quando Clio apareceu pra mim e me fez prestar atenção em um trecho específico de um dos textos que estava usando. Por mais que eu quisesse controlar meus anseios anacrônicos, não pude deixar de ver no passado o mesmo que vi há pouco tempo no presente e ainda vejo. Então, lá vai:


‎"Em novembro, aplaudido e cumprimentado por uma horde de colegas, [Martinho] Campos pediu respeito pela lei e a ordem, denunciou os 'socialistas' e os 'reformistas modernos' que estavam subvertendo o mundo e deplorou seus supostos exageros, falsidades e apelos abertos à rebelião. 'A esse grito de abolição', sugeriu ele, 'respondam os fazendeiros de revolver em punho'. 'Fallar em emancipação dos escravos é não ver um palmo adiante do nariz' zombou o Deputado Moreira de Barros em outra ocasião. 'Brincam com fogo os taes negrophilos', advertiu o Barão de Cotegipe." (CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850 – 1888. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1975.pp. 201-202.)


Algumas informações que devem ser consideradas (e comparadas!):
- A grande maioria dos abolicionistas era de homens ricos e "privilegiados" por receberem uma educação que estava ao alcance de poucos;
- Os escravocratas não se intimidaram em seguir a proposta de Martinho Campos e reagir aos "socialistas" com violência;
- Os "grandes jornais" da época se posicionaram contra o movimento, acusando e ridicularizando os abolicionistas, algumas vezes até mesmo recorrendo a características físicas, e dizendo que eles buscavam interesses individuais.
- A princípio, os abolicionistas tentaram alcançar seus objetivos por meios legais e pacíficos, através de uma luta política, mas depois de muito serem ignorados pelos fazendeiros e pelo Parlamento, a revolta os levou a voltarem-se para métodos ilegais, como incitar escravos para que se rebelassem e deixassem as fazendas.
(referência: CONRAD, Robert. Op. Cit.)


Sabe por que eu amo tanto a história? Porque ela me faz ficar cada vez mais convicta de, no fundo, no fundo mesmo, a única coisa que muda é o número que representa o ano estudado.


"O nosso verdadeiro estudo é o da condição humana" (Rousseau)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Anedota II

Prof. de história: - E então, leu o livro do Foucault que te emprestei?
Coordenador do colégio: - Ah, li sim e adorei! Concordo plenamente com ele, acho que tem mesmo que VIGIAR E PUNIR!
Prof. de história: - Me demito!

Anedota I

- E qual é a sua profissão?
- Sou historiador.
- Ah! É mesmo?! Que legal... Gosto muito de história, mas não sou bom de memória.
- Nem eu! o.o'